Construindo a Mudança
Paulo César Uberti Pereira
Consultor de empresas e palestrante
O mundo corporativo vem passando por diversas transformações, ou seja, mudança tornou-se a palavra de ordem. Diversos provérbios são atribuídos a este momento, tais como: não podemos esperar resultados diferentes fazendo sempre as mesmas coisas, ou então, nada é eterno exceto a mudança. Porém as empresas não podem sair mudando simplesmente por mudar, pois não se trata apenas de uma alteração nos processos, estilos, produtos ou ampliar leques de produtos ou serviço, para que realmente aconteça alguma alteração significativa e tenha algum resultado esperado, é preciso também rever valores, princípios, crenças, enfim tudo o que envolve culturalmente a organização. Acima de tudo em todas as mudanças estão envolvidas as pessoas e estas precisam de tempo, de adaptações, ninguém consegue despejar toda a bagagem recebida por diversos anos, bagagens estas responsáveis pela formação cultural e caráter e reabastecê-las em poucas semanas. É preciso muito mais do que uma ordem, um novo procedimento, uma nova instrução, é preciso acima de tudo respeitar o tempo do ser humano para novos desafios.
Para tanto, antes de iniciarmos um processo de mudança é preciso haver planejamento, e este passa por diversos cenários: O primeiro deles é entender a situação atual da organização. Para isto, é preciso diagnosticar e este trabalho pode ser dividido em diversas partes, porém se for realizado por empresa contratada (consultoria), é imprescindível que inicie com entrevistas com os principais executivos. Se realizado internamente, que se inicie por um executivo da própria empresa onde o mesmo seja responsável pela mudança.
Muitas empresas preocupam-se em mudar, buscar evolução, e se esquecem de seus vínculos com os objetivos maiores da organização, estes definidos em seus planos estratégicos, causando com isto, impacto decisivo e percebido claramente por seus clientes, funcionários e acionistas como fatos incoerentes, falta de foco e desperdício de energia em relação aos objetivos da organização.
Não podemos esquecer que mesmo que quisermos mudanças, e estas necessárias para a sobrevivência da organização, precisamos sempre respeitar as estratégias definidas por ela. Estas tem a importante tarefa de produzir efeitos que, se mal conduzidas, podem levar resultados desastrosos, como temos visto ultimamente no mercado.
Sempre que a organização optar pelo tradicional planejamento estratégico, é importante saber que o mesmo pode trazer efeitos colaterais negativos, entre eles projetos desconectados com a verdadeira intenção estratégica da organização.
Normalmente a primeira etapa para a mudança de uma organização deve ser realizada de forma mais ampla, livre dos números para mais tarde realizar os ajustes necessários. Esta etapa podemos chamar de Intenção Estratégica Provisória, onde nome já define com muita clareza o início deste processo. Na seqüência, é importante definir as forças propulsoras da organização. Alguns autores definem que estas forças em dez conjuntos:
a) Tecnologia b) Recursos Naturais c) Capacidade de Produção / Capacitação d) Produto / Serviço e) Método de Vendas / MKT f) Método de Distribuição g) Cliente / Usuário h) Mercado i) Tamanho / Crescimento j) Retorno / Lucro Tecnologia – empresas que estão no início da cadeia de produção. Estão calcadas em invenção e tecnologia. Suas invenções são suporte para seus produtos e serviços, buscam clientes que precisam de tecnologia aplicada. Desenvolvem ou complementam/aperfeiçoam tecnologias. Recursos Naturais – empresas que tem como base a utilização de recursos naturais. Ex.: Exploradoras de Petróleo, Mineradoras. Capacidade de Produção / Capacitação – empresas que possuem esta força têm equipamentos caros e investem muito para manter-se em funcionamento. Produzir, sempre utilizando a capacidade máxima de seu maquinário produtivo. Acredita-se que a ocupação máxima de seu valioso ativo é o segredo para atingir os resultados financeiros. Estão entre estes grupos: gráficas, hotéis e companhias aéreas. Produto / Serviço – normalmente estas empresas são caracterizadas por um único conceito de produto / serviço. Quase todos são muito semelhantes em aparência, conceito e funcionalidade, muitas vezes sendo lançados como diferentes, novos no mercado. Estas novidades quase sempre são extensões, ou complementos dos mesmos produtos. Estas empresas tem normalmente a preocupação de atender as necessidades específicas de seu mercado e suprir demandas de seu cliente, por isto à necessidade de sempre estar melhorando e adaptando-o ao seu cliente. Métodos de Vendas / MKT – empresas que se preocupam em vender seu produto para clientes que possam operar com seu modo de venda, especialista na forma de realizar o comércio. Método de Distribuição – tem sua força no sucesso de levar seu produto ou serviço ao cliente onde quer que ele esteja. Preocupam-se em aperfeiçoar o sistema de distribuição, mas em geral, possuem poucas restrições às quais mercadorias levam ou quais clientes atendem. Cliente / Usuário - estas empresas tem como foco sua força vinculada a uma determinada categoria de cliente e busca a realização das necessidades desta categoria, não limitando-se a uma gama restrita de produtos, nem mesmo a uma capacidade de produção instalada. Mercado – empresa que ancora seu futuro em determinada categoria diferenciada do mercado e não a clientes. São empresas focadas no negócio pelo negócio. Tamanho / Crescimento – todas as ações destas empresas são voltadas para seu crescimento e expansão, muitas vezes podendo até comprometer a sua rentabilidade. Sua estratégica é ampliar seu poder através de seu crescimento físico. Retorno / Lucro – principal preocupação destas empresas é o resultado financeiro, obter lucro. Gerar retorno ao acionista. Normalmente não se apegam a nenhuma vocação. Grandes grupos passam de mão em mão na intenção de gerarem lucro aos seus acionistas. Para uma tomada de decisão de mudança, o mais sensato seria se as empresas tivessem foco em uma força propulsora somente, pois quando a empresa tenta atuar em mais de uma força, defronta-se com conflitos e indecisões difíceis de serem contornadas e muitas vezes, transparecem para seus clientes e funcionários uma postura ambígua e contraditória, trazendo com isto, grandes perdas de foco e de energia para a empresa.
Alguns autores comentam que, quando uma empresa apresenta claramente duas forças propulsoras, sofrem de esquizofrenia estratégica. Quando apresentam mais de uma força são empresas que sofrem de múltiplas personalidades.
Portanto, para que a empresa pense em mudar, é necessário antes de tudo, ter a certeza do que deseja e quais os motivos reais que a levaram a esta decisão, pois para a mudança acontecer realmente, é necessário entender qual a força propulsora da organização e principalmente se esta força está de acordo com seu Planejamento Estratégico. Nada deve ser considerado fora do definido na cultura da organização, esta responsável por seus valores, crenças e princípios. |